O maior milagre

Ela gosta de como a luz apaga-se devarinho e o ar permanece parado, como se aquela tarde fosse o infinito deles. Como se o céu prateado e o vento que teima em brincar com o cabelo dela fossem o máximo de perfeição que ela alguma vez conhecerá. Sim, ela ama inspirar o ar frio e sentir a humidade no seu rosto, gosta de ouvir a chuva a cair nas folhas, gosta de as ver a dançar com o vento e acima de tudo, gosta de cheirar a terra húmida em harmonia com o perfume dele. Sabes, ela não confia muito nas pessoas. Teve que aprender após duras batalhas a esconder a inocência dela e o seu coração. Tem muito medo na verdade, medo se voltar a cruzar-se rua da solidão e virar na mágoa. Medo de os fantasmas sombrios continuarem ao seu encontro. Mas aqui está uma verdade: eu acredito vivamente que todos nós vivenciamos algum tipo de milagre. E ela tem o maior: ele e estas tardes de Outono. Estas tardes onde correm pela casa cheia de gargalhadas e com cheiro a chocolate. Onde deitam-se com os seus corpos entrelaçados e entram no mundo dos sonhos juntos. Onde ela pousa a cabeça sobre o peito dele para sentir a segura respiração e passeia com os dedos nos seus braços. Oh... Como é tão mágico sentir o toque do universo! Ela olha nos olhos dele e aí consegue senti-lo: que é amada e todo o resto desaparece. As partículas do ar permanecem paradas no tempo e as folhas entregam-se à chuva. Ela ama-o e os fantasmas fogem daquela luz imensa. E neste momento ela olha para as sardas dele, sorri, e diz bem baixinho "isto é para sempre não é?" E pela primeira vez a água salgada que caí na sua carinha é feita de esperança e de uma enorme felicidade.


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