(Cheiras a) Casa
Cheiras a casa. Aquele cheiro quente, de conforto, onde não existe medo. Onde ela pode rir enquanto escolhe a roupa do dia, lavar os dentes enquanto arruma o quarto... Oh, já sabes como ela é, sempre atrasada para o autocarro! E cheiras a casa.
Ao longo da vida vamos acumulando mais marcas do que alguma vez imaginaríamos. Vamos ser magoados pelas pessoas mais inesperadas, vamos ser testados a todo o momento. E, o extraordinário, é que vamos vencendo. Sim, com marcas e máscaras, com dias mais escuros e confusos, mas.. continuamos.
O problema é que muitas vezes continuamos, mas mergulhados em nós mesmos. Num lugar frio, ventoso, onde a orientação se perde. E ela sentia-se muito assim. A tentar a todo o custo rasgar aquela pele não dela, a tentar criar-se de novo, a sair. Parar de se esconder por de trás do seu cabelo negro e ondulado. Mas os seus olhos perdiam-se cada vez mais, a solidão apertava cada vez mais e as mãos tremiam. É uma sensação muito estranha sentires que te estás a perder. A sentires que nada á tua volta faz sentido, que tudo mudou.
Não sei bem como explicar, mas aqui vai uma tentativa: sabes nos filmes quando a personagem principal está a sofrer tanto que já não resta nada dela e, depois, acontece uma reviravolta? E a vida muda. Assim num piscar dos olhos, num só sopro: ela muda. A pessoa em questão começa a focar-se em si, a trabalhar nela e no que gosta, enfim, entra num comboio de autoconhecimento? Bom, a vida muda. E isso é o bom da vida, não é?
Gosto de imaginá-la a acordar decidida a ser feliz. Imagino aquele momento com tanta precisão: ela abre os olhos curiosos, olha para a janela e sorri. Apenas sorri. Porque está viva, porque sente o calor na pele, porque os pássaros cantam e o cão dá o bom dia. E nessa mudança entraste tu. Porque ela quis mimar a si mesma e entrou naquela loja e viu-te. Com esse maldito sorriso. Acho que ambos sabemos que foi uma espécie de amor á primeira vista, quer dizer, ela nem conseguia controlar bem a respiração. Perdeu-se nos teus olhos castanhos, ah, e já falei desse maldito sorriso? É como se estivesse em casa.
Não foste tu que a salvaste ou o motivo da mudança. Aliás, por isso é que é tudo tão bom. Porque ela aprendeu a estar sozinha, ser forte e elevar-se. E tu? Tu fizeste a coisa mais brilhante de todas: Deixaste-a crescer, ser livre. Deixaste-a ser ela mesma, mudar, voar... sofrer uma espécie de metamorfismo sem ter a pressão de corresponder a uma ideologia criada na mente de outra pessoa. Ser ela, como ela é. E tu estiveste o tempo todo a assistir, a ter orgulho, a amá-la.
"Love her but leave her wild". Ela é livre e é tua. E o cabelo dela volta a dançar com o vento e o olhar dela procura-te sempre, porque quer. Simplesmente porque quer, não por necessidade ou medo, mas, porque te quer. E por isso, cheiras a casa. E dança e canta contigo, dorme segura e brinca da forma mais genuína de todas. Porque és o cheiro do café com canela, aquela sensação de segurança de estares nos cobertores a ver a tua série preferida, os raios de luz que entram pela persiana da janela... Tu cheiras e sabes a casa.
Fotografia por Ana Ferreira



o teu texto cheira a amor e as tuas palavras à segurança de quem é amado. u go, girl! ❤
ResponderEliminarLove is pure, love is wild ♥ tens o amor em ti ♥
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