She wolf
Mergulhada naquele mato imenso, a partir ramos de árvores á medida que o vento gelado lhe limpa a cara dos cabelos negros, ela corre. Como se a vida dependesse disso, do quanto mais rápido ela fugia dela mesma. Fechava os olhos e suspirava o orvalho fresco e... corria.
Por mais que o peito lhe doesse, que o frio que lhe queimasse o rosto, ela não parava. Nem quanto ela caia de joelhos e sentia a terra húmida com as mãos trémulas ela parava.
"Como parar?" Repetia esta pergunta vezes sem conta.
E o barulho da chuva e dos pássaros começava a desparecer á medida em que focava-se na sua respiração. Inspira, expira, inspira...Tentava sentir-se por mais um bocado, a sentir ela mesma por mais um instante antes de voltar a desaparecer. Antes de voltar a ser dor e solidão e desparecer nela mesma.
Rasgou a sua alma sempre que voltava do inferno, cortava as correntes que a prendiam e gritava toda a mágoa. Corria sem olhar para trás, sabia que tinha que fugir daquela caverna e criar a sua fortaleza. Construiu um castelo de paredes com máscaras a decorar, com armaduras e escadas sem fim. Refugiou-se e os picos das rosas deixaram de lhe fazer impressão. "Espelho meu, espelho meu, mas afinal quem sou eu?". Forçada a esconder a bondade e a fragilidade como se um tesouro poderoso fosse, porque muitos julgam vulnerabilidade com fraqueza e, ela estava farta que a olhassem como se fosse um animal perdido a precisar de ajuda. Talvez estivesse perdida. Talvez precisasse de ajuda. Mas nunca, nunca, de pena. Sentada no seu trono, gelado e distante, procurava todos os pedaços espalhados que restavam da sua alma. Como é possível ser-se tão nova e tão fragmentada? Mas ao menos fugiu daquela caverna, voltou do inferno e voltaria a subir se lá voltasse. Corria sempre, sem parar, sem olhar para trás. Fugir da caverna, fugir dela para não enfrentar a dor, fugir.
Mas a manhã chega sempre. Por mais que durma escondida no chão de pedra, os raios de sol tocam-lhe na pele e ela sente de novo aquela sensação: o calor, o cheiro da vida. Espreita pela janela, sente a brisa suave e o cheiro de todas as flores. E não adianta fechar a janela com raiva, correr pelas escadas para ninguém a encontrar, o calor continua nela. Será que para começar do zero, para voltar a ter o coração aberto e a caminhar descalça pela relva, requer tanta coragem como aquela que teve para fugir de todos os lugares pegajosos e escuros que já teve? Será que um coração partido, que lhe pesa a alma, pode tornar-se leve? Que todos os anos a fugir com máscaras, a tornar o quente no frio, a fugir do espelho, poderão ser recompensados? Que se irá encontrar no meio de tantas caras diferentes, voltar a sentir a sua essência e inocência, voltar a sorrir e a caminhar mesmo quando magoada? Fugir é mais fácil. Na verdade, ficar encolhida entre quatro paredes de pedra, no seu vestido azul e cabelo longo e negro, tem sido a única coisa que sabe fazer. Mais uma corrida?
Voltar a sentir todas as emoções, mesmo as mais pequenas, na palma da mão é algo assustador. Aceitar sair das profundezas do oceano onde se aprisionou, não deixar a caverna controlar mais o som da sua respiração, dar um lugar á dor no peito e deixa-la ser sentida, sofrer, lutar, fazer o luto, chorar. Voltar a sentir e não correr mais no meio do mato escuro.
Que bom que ela voltou a olhar-se ao espelho, a ver o seu reflexa na água por mais círculos duvidosos que ela fazia. É tão bom voltar a sentir, a viver, a respirar ar fresco sem medo do passado e do futuro. Sair daquele poço interminável, baixar muralhas, e tocar no céu.
Tocar, deixar ser tocada, sentir, abraçar, beijar, ter-te com ela. Sentir os teus lábios nos ombros dela e a tua mão, firme mas sempre delicada, no pescoço. Perder-se no teu olhar, puxar o teu corpo contra o dela e dizer-te "amo-te" enquanto procura o controlo da respiração. Voltar a amar, a entregar-se, a ser vulnerável e fogo para alguém. Ser livre e indomável e partilhar essa magia contigo. Partilhar-se contigo, mostrar todos os pensamentos mais peculiares da sua mente, os sonhos, os medos, os lábios, o toque da pele com pele, o prazer inerente a um grande amor. Amar sem medo, sem pudor, sem controlo, sem razão: amar e ser amor. E trincar-te as orelhas e mostrar-te quem ela é. Despir-se de preconceitos, de receios, desconfianças e tirar a roupa, peça a peça,
na tua frente, enquanto o vento que entra pela janela faz com a franja dela comece a voar de forma tímida. Ela entrega-se a ti e beija o teu corpo, percorre-te como percorreu todas as matas do mundo para se encontrar. Porque encontrou-se e encontrou-te nesse percurso. Porque ao salvar-se entendeu que nem uma loba está preparada para ser sozinha. E por mais que se sinta em harmonia com a lua e realizada sozinha: ela aquece mais com o teu amor e com o teu toque.
Por mais que o peito lhe doesse, que o frio que lhe queimasse o rosto, ela não parava. Nem quanto ela caia de joelhos e sentia a terra húmida com as mãos trémulas ela parava.
"Como parar?" Repetia esta pergunta vezes sem conta.
E o barulho da chuva e dos pássaros começava a desparecer á medida em que focava-se na sua respiração. Inspira, expira, inspira...Tentava sentir-se por mais um bocado, a sentir ela mesma por mais um instante antes de voltar a desaparecer. Antes de voltar a ser dor e solidão e desparecer nela mesma.
Rasgou a sua alma sempre que voltava do inferno, cortava as correntes que a prendiam e gritava toda a mágoa. Corria sem olhar para trás, sabia que tinha que fugir daquela caverna e criar a sua fortaleza. Construiu um castelo de paredes com máscaras a decorar, com armaduras e escadas sem fim. Refugiou-se e os picos das rosas deixaram de lhe fazer impressão. "Espelho meu, espelho meu, mas afinal quem sou eu?". Forçada a esconder a bondade e a fragilidade como se um tesouro poderoso fosse, porque muitos julgam vulnerabilidade com fraqueza e, ela estava farta que a olhassem como se fosse um animal perdido a precisar de ajuda. Talvez estivesse perdida. Talvez precisasse de ajuda. Mas nunca, nunca, de pena. Sentada no seu trono, gelado e distante, procurava todos os pedaços espalhados que restavam da sua alma. Como é possível ser-se tão nova e tão fragmentada? Mas ao menos fugiu daquela caverna, voltou do inferno e voltaria a subir se lá voltasse. Corria sempre, sem parar, sem olhar para trás. Fugir da caverna, fugir dela para não enfrentar a dor, fugir.
Mas a manhã chega sempre. Por mais que durma escondida no chão de pedra, os raios de sol tocam-lhe na pele e ela sente de novo aquela sensação: o calor, o cheiro da vida. Espreita pela janela, sente a brisa suave e o cheiro de todas as flores. E não adianta fechar a janela com raiva, correr pelas escadas para ninguém a encontrar, o calor continua nela. Será que para começar do zero, para voltar a ter o coração aberto e a caminhar descalça pela relva, requer tanta coragem como aquela que teve para fugir de todos os lugares pegajosos e escuros que já teve? Será que um coração partido, que lhe pesa a alma, pode tornar-se leve? Que todos os anos a fugir com máscaras, a tornar o quente no frio, a fugir do espelho, poderão ser recompensados? Que se irá encontrar no meio de tantas caras diferentes, voltar a sentir a sua essência e inocência, voltar a sorrir e a caminhar mesmo quando magoada? Fugir é mais fácil. Na verdade, ficar encolhida entre quatro paredes de pedra, no seu vestido azul e cabelo longo e negro, tem sido a única coisa que sabe fazer. Mais uma corrida?
Voltar a sentir todas as emoções, mesmo as mais pequenas, na palma da mão é algo assustador. Aceitar sair das profundezas do oceano onde se aprisionou, não deixar a caverna controlar mais o som da sua respiração, dar um lugar á dor no peito e deixa-la ser sentida, sofrer, lutar, fazer o luto, chorar. Voltar a sentir e não correr mais no meio do mato escuro.
Que bom que ela voltou a olhar-se ao espelho, a ver o seu reflexa na água por mais círculos duvidosos que ela fazia. É tão bom voltar a sentir, a viver, a respirar ar fresco sem medo do passado e do futuro. Sair daquele poço interminável, baixar muralhas, e tocar no céu.
Tocar, deixar ser tocada, sentir, abraçar, beijar, ter-te com ela. Sentir os teus lábios nos ombros dela e a tua mão, firme mas sempre delicada, no pescoço. Perder-se no teu olhar, puxar o teu corpo contra o dela e dizer-te "amo-te" enquanto procura o controlo da respiração. Voltar a amar, a entregar-se, a ser vulnerável e fogo para alguém. Ser livre e indomável e partilhar essa magia contigo. Partilhar-se contigo, mostrar todos os pensamentos mais peculiares da sua mente, os sonhos, os medos, os lábios, o toque da pele com pele, o prazer inerente a um grande amor. Amar sem medo, sem pudor, sem controlo, sem razão: amar e ser amor. E trincar-te as orelhas e mostrar-te quem ela é. Despir-se de preconceitos, de receios, desconfianças e tirar a roupa, peça a peça,
na tua frente, enquanto o vento que entra pela janela faz com a franja dela comece a voar de forma tímida. Ela entrega-se a ti e beija o teu corpo, percorre-te como percorreu todas as matas do mundo para se encontrar. Porque encontrou-se e encontrou-te nesse percurso. Porque ao salvar-se entendeu que nem uma loba está preparada para ser sozinha. E por mais que se sinta em harmonia com a lua e realizada sozinha: ela aquece mais com o teu amor e com o teu toque.
Fotografia em analógica pela Raquel Canas



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