O coração tem que arder

Os piores anos da minha vida foram, sem dúvida, 2012 e 2016. Mas tão duros, tão duros, que hoje olho atrás e só penso "como aguentei aquilo tudo?" e, sou sincera, sinto um enorme orgulho em mim.

Acho que no ano de 2016 arrancaram-me tanto o coração, que perdi tantas vezes a respiração e fui contra tantas paredes redondas, que uma força enorme e vontade de respirar livremente nasceu em mim. E de uma forma tão arrebatadora, tão explosiva, que nem eu sabia lidar. Acho que quando sentes que te estão a tirar tudo, que nada mais faz sentido, que não consegues mais guardar a dor... aquele momento em que estas de joelhos na terra molhada a chorar compulsivamente e olhas para o céu e pensas "chega!".... Tudo chegou e tudo vai mudar.

Na verdade, não me arrependo de nada que fiz nesse ano, por mais exagerado que aos outros pareça. Senti mesmo que me foi necessário para livrar de demónios meus. Acho que foi um rasgar da minha alma, uma libertação profunda e uma auto-procura e exploração incansável. Que tinha que me reencontrar depois de tanta dor, mágoa, raiva. Porque tinha que as libertar. Muitos na altura criticaram e afastaram de mim, mas: o meu ser em ebulição não tolera o teu ser empático e cobarde. A dor, a vida, a luta tem que ser confrontada de frente. Pelos cornos, como se costuma dizer. E eu agarrei tudo pelos cornos e levei tudo a frente. Deixei para trás aqueles que me prendiam, que não contribuíram nem iriam contribuir para a minha evolução espiritual,  que seriam um obstáculo para esta minha ascensão e... Evoluí, cresci, melhorei, tornei-me. Tornei-me. É isto. Senti todas as minhas dores, enfrentei todos os meus demónios. E este ponto de rotura, da saída do sofrimento solitário e construção de mim, uma vez mais, começou no Verão de 2016. E o auge? Início de 2017.

2017 foi um ano de grande transição, crescimento e evolução. Sinto-me uma pessoa diferente do que era em Janeiro, e sabem que mais? Que bom. Que bom que mudamos, crescemos, somos mais. Metamorfoses são essenciais à vida. Sinto que fui, principalmente, acalmando. Tornei-me mais humilde, ponderada. Já não perco tempo a discutir e a rodear-me de coisas negativas. Já sei quais as batalhas que valem a pena e quais a que é melhor afastar-me. Depois da explosão... acalmei. Porque tudo o que me ardia no peito eu deixei queimar-me, elevar-me, explodir comigo. E senti que nasci de novo, que voltei a sentar-me naquela terra molhada, nua e vulnerável, e sentia-me forte e com certeza que a minha resiliência me chega. E chegará sempre.

É tudo necessário na vida: sofrer, explodir, renascer, erguer. Este ano eu sinto que renasci e ergui da escuridão. Sinto-me uma pessoa com marcas, vulnerabilidades mas segura e confiante. Sinto mesmo isso: confiante. Amo-me. E quero que todos se amem. Porque a vida é tão maravilhosa.

Por isso, para 2018, é isto que vos peço: amem-se. Perdoem os vossos erros. Caiam e levantem-se. E se sentem mil gritos a sufocar no vosso peito: libertem todos, um por um, libertem. Mostrem a vossa raiva quando o mundo vai mal e, sobretudo, o vosso amor. Porque precisamos mesmo de usar a raiva e o amor em simultâneo para mudar o mundo, para melhorar isto. Riem e chorem, mas sobretudo: riem. Sorriem. Olhem para o céu, por amor de Deus, olhem para o céu. A natureza dá-nos todos os dias o espectáculo de cores mais lindo de todos! O dia cinzento tem tanto encanto como o azul, o pôr-de-sol será sempre a minha cor preferida e a lua... Que dizer da lua? Garanto isto: por mais difícil que a vida esteja, a lua vai estar a brilhar para nós

Por mais que custe respirar, todas as manhãs conseguimos ouvir os pássaros e sentir a pele a queimar pelo Sol. Soprar dentes de leão, sentir a relva molhada, a chuva a cair de miudinho no nariz, correr de mãos dadas a quem amas atrás do metro na paragem de  "Sete Bicas"... A vida vale a pena. E vale por estes pequenos momentos. Não se esqueçam disto. Lutem, divirtam-se e amem. E libertem-se do mau para o bem prevalecer.

A dor é para ser sentida. O amor é necessário. O coração tem que arder. A boca é para a revolução. O coração tem que arder. Feliz ano novo, amores.

Fotografia por Ana Ferreira