Self love is the warmest feeling

Das sensações mais bonitas da vida é sentir o calor do sol a queimar a mão. Estender o braço para sair da sombra e sentir o calor a entrar na palma da mão. Outra sensação boa é aquela brisa quente e discreta. E a chuva a cair devagar no nosso rosto e o cheiro a terra molhada. É quando fechas os olhos e sentes verdadeiramente feliz e grata. Grata por estares viva, por sentires, enfim, por viveres.
Nem sempre é assim. Nem sempre me sinto assim.
Muitos perguntam a razão de eu fazer estas sessões de fotos. Apesar de os nossos corpos serem puros e naturais, são vistos como um "pecado" e são totalmente sexualizados. Não faço estas fotos pelo sexo, para "provocar", para seduzir. O meu corpo é o lar da minha alma, assim como o teu corpo é o lar da tua. É algo, como já disse, natural e puro. Houve pessoas que me julgaram, que se afastaram de forma significativa- familiares incluídos-, que me insultaram... E, sabem? Tudo bem. Estou ciente do que faço e tudo o que faço é bem pensado, ponderado e é algo que realmente quero fazer. Além disso, é algo que me dá orgulho. Não julgo quem me quer julgar, não tenho tempo para pensar nisso ou guardar rancor- só me importa aqueles que me perguntaram o porquê. Qual o motivo. Que tentaram entender. E mesmo que não concordem continuam a respeitar-me. E isso é fundamental em qualquer relação humana. 
Mas, voltando ao que interessa: nem sempre me senti genuinamente feliz ou grata. E isso está muito ligado com estas minhas sessões fotográficas. 
Há uns dias atrás estava a ver fotografias minhas. Tenho imensas de quando era criança mas quando se aproxima da minha adolescência são pouquíssimas. É triste pensar que, gostaria de ter um registo meu dessa altura para recordar e, saber que não existe porque, na verdade, eu nessa altura odiava que me fotografassem. Odiava porque odiava-me. Então... Não queria. Não queria que me vissem, não queria ver-me. Porque sentia-me sempre gorda e feia. Odiava os meus grandes olhos e o meu cabelo, não gostava da minha barriga nem do meu rabo, tinha imensos complexos com o tamanho das minhas mamas. Enfim, muito num geral: não gostava de mim. Não sentir amor próprio é a pior sensação que existe neste mundo. Ter ansiedade e ser insegura é algo horrível mas quando nem amor próprio tens... Estás num lugar apenas escuro e frio. É horrível. E a forma como te amas vai mesmo ensinar aos outros a como te amar. Tudo influencia tudo. Não vais conseguir manter relações, sejam elas de amor ou de amizade, porque não estás bem contigo mesma. Logo, não vais conseguir socializar de uma forma saudável porque não consegues e não sabes como. Claro que vais ter pessoas a entender-te, a conhecer-te e a mostrar-te como a bondade e o amor funciona. E ainda bem: guarda essas pessoas.
Infelizmente, passei boa parte da minha vida a ter uma má relação comigo mesma, com a comida e com o espelho. O comer em demasia e sentir culpada e depois deixar de comer até não aguentar mais e, mais uma vez, comer em demasia. Odiava ir a praia e, quem me conhece, sabe bem o quanto eu amo a praia! Mas naquela altura era um pesadelo autêntico, estava sempre preocupada em como a minha anca estava gorda, sempre que me sentava colocava-me numa posição bastante estranha e desconfortável, para que a minha barriga não fizesse aquelas "dobrinhas". Adorava ver mulheres poderosas e confiantes, a usar vestidos justos, mini calções e camisolas curtas mas...não me sentia bem, de todo, a vestir-me assim. Não tinha coragem, por mais que me identificasse ou gostasse daquele estilo. Aos poucos fui-me desleixando cada vez mais até que olhava ao espelho e já não me reconhecia. Não tratava de mim nem me mimava. Não tinha o "meu estilo" porque via-me sempre como algo que não valia muito a pena investir. 
Mas, como digo " "Mamma Mia!" é o maior cliché da minha vida". Sou uma romântica e acredito muito em finais felizes. E acho que tenho tido o meu. Quer dizer, estou mesmo feliz, sabem? 
Há cerca de três anos comecei uma revolução que mudou a minha vida: o amor. Comecei a amar-me aos pouquinhos e agora amo-mo muito. Sou mesmo o amor da minha vida! Mas calma, amo muito outras pessoas também. Mas em primeiro lugar estou eu. Sem medos de ser julgada: eu sou a minha prioridade. Eu amo-me! E comecei a mimar-me, a dar-me prendinhas (nem que seja uma ida ao Wok to Walk mensal), a arranjar-me. Reinventei-me e redescobri-me. É engraçado, sinto me muito próxima da Adriana com 13 anos, antes da fase má. E sinto mesmo que estou onde devia estar.
Aceito-me como sou. Não sou perfeita; tenho celulite, estrias, cicatrizes de uma operação, a minha barriga faz dobrinhas mas... aceito tudo. Aprecio tudo e dou beijinhos na parte superior do meu braço quando estou ansiosa para me confortar: tornei-me a minha melhor amiga. Comecei a arranjar-me mais, a vestir aquelas roupas que sempre quis e nunca tinha coragem (obrigada a todas as mulheres confiantes e poderosas que me inspiraram), a criar o meu estilo de acordo com a minha personalidade (uma amiga minha classificou-me como "fada da disney slutty" e amei). E agora... tudo é luz e quente. Tudo é amor e ouro. 
Danço na chuva e estico o pescoço para sentir melhor o calor do sol na minha pele. Salto para cima das folhas secas e cheiro as primeiras flores da primavera. Sinto-me plena e feliz. Sinto-me capaz de tudo, tenho novos sonhos e objectivos! E amo-me. E desde que esteja comigo mesma, que não me perca, então tudo correrá bem.
Porque tiro estas fotos? Porque me amo e já não me amei. Porque conheço o calor do amor próprio e a solidão na ausência dele. Porque me sinto confortável na minha pele por mais impurezas que ela tenha. Porque me amo e estou tão grata que me quero celebrar. Porque quero, mais tarde, recordar.


 
Fotografia pela Ana Araújo
instagram: @intothespace_


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