O reino do medalhão. Cap. 1

Arvo

O bosque cheirava a terra húmida e estava coberta por folhas do Outono, musgo e pequenos cogumelos a espreitar. O único som que se ouvia era o da chuva ameaçadora e dos passos fugitivos de um velho homem. Ele ignorava a respiração ofegante, o frio gelado que lhe rasgava os lábios e congelava o ar que inspirava, as feridas infectadas que deixavam um perigoso rasto do seu caminho. Nada importa quando não há nada a perder. Mas quando há algo a perder? Quando a tua vida ganha toda uma outra dimensão e tens uma missão a cumprir, uma ideia a proteger? Quantos fugitivos não morreram a proteger uma ideia? A protege-la? Então ele corria, sempre em alerta, desviava-se de todas as arvores negras até que deixou de sentir a chuva a cair e viu-se rodeado por árvores brancas.
 "É aqui só pode ser aqui!"- Pensou Arvo para si mesmo ao recordar as palavras  de Pascal- “Um lugar mágico tão mágico onde a água não chega ao solo mas tudo é cheio de vida e energia. Tão mágico que a chuva não cai e mesmo assim a terra está sempre húmida. Tão mágico que as árvores tem troncos brancos mas com ramos castanhos e folhas de sangue. O lugar onde tudo começou. Arvo, promete-me... Promete-me que tudo tem que acabar ali.”
Entregou-se ao cansaço e deixou cair o peso do seu corpo sobre as folhas vermelhas enquanto tentava controlar o choro.
Arvo Lynn era um Senhor da sua terra: nascido em Annerya numa família abastada, teve uma educação bastante digna para a sua época e foi o fundador principal da Igreja Annelida. Não era para admirar: rezava dias e noites a Deusa Annerya e ao Deus Ann e citava perfeitamente cada ensinamento destes. Ocupar um lugar destes tem os seus perigos e o Império está cheio destes… mas nenhum perigo é o pior que o das duas faces. O da hipocrisia, da mentira, da arrogância e da ganância. Perigos estes mascarados de religião, política, realeza e de boas intenções. Arvo viu a igreja a ficar rica e a ser aliada aos reis, a impor ao povo regras e a criar pecados só para os oprimir e controlar. No início ele não se importou: de sorriso na missa a espalhar a palavra digna e bondosa, e de cara fechada a mandar matar aquele opositor. Todos temos duas fases. Antes ele estava adormecido e embelezado por promessas de riqueza, segurança e prosperidade. Mas agora, ele acordou.
Além destes perigos no mundo humano, outro se avizinhava. Cada vez havia mais tensão entre as três nações: Humanos, Elfos e Anões. Houve a  necessidade da criação de um elemento que trouxesse paz, que mudasse o destino. Um elemento criado por membros destas três nações, sob o sangue de um humano. E esta foi a desgraça de Arvo: o seu sangue, o seu legado, mergulha e percorre vivamente neste medalhão. 
Pegou no medalhão que trazia pendurado ao seu pescoço e sob as feridas infectadas na sua mão começou a citar baixinho um feitiço. Lágrimas de esperança cobriam a sua cara robusta ao mesmo tempo que sangue escorria pelo nariz abaixo. Um pequeno vento começou a correr pelo bosque, as folhas começavam a dançar e o som da chuva fora substituída pela sua voz eloquente: gritava, gritava até as costas lhe doerem e por fim caiu num sono profundo. Cresceram olhos enrugados em cada árvore, olhos de madeira que tudo viam no bosque. Olhos ligados ao Lynn pelo sangue e que só aos dele respondiam. A floresta tinha um Rei só dela: o dono do medalhão. E todos os seus olhos olharam para Norte assim que ouviram uma voz feminina:
- Ali!!! Ele está ali !!!!!



Comentários

  1. Quando for para descrever o vilão venham falar comigo :P
    De tanto que já li e vi sei como é o vilão perfeito...
    P.s. ***** Santos

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  2. Ahah mas isso é mais que óbvio sir Santos !!
    Quem mais nos iria ajudar nisso? :3

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